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CHUVA DE VENTOMauro MotaDe que distânciachega essa chuvade asas, tangidapela ventania?Vem de que tempo?Noturna agoraa chuva mortabate na porta.(As biqueiras da infância, as lavadeirascorrem, tiram as roupas do varal,relinchos do cavalo na campina,tangerinas e banhos no quintal,potes gorgolejando, tanajuras,os gansos, a lagoa, o milharal.)De onde vem essachuva trazidana ventania?Que rosas fez abrir?Que cabelos molhou?Estendo-lhe a mão: a chuva fria.
SONETO DO DESMANTELO AZULCarlos Pena FilhoEntão, pintei de azul os meus sapatospor não poder de azul pintar as ruas,depois, vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas,Para extinguir em nós o azul ausentee aprisionar no azul as coisas gratas,enfim, nós derramamos simplesmenteazul sobre os vestidos e as gravatas.E afogados em nós, nem nos lembramosque no excesso que havia em nosso espaçopudesse haver de azul também cansaço.E perdidos de azul nos contemplamose vimos que entre nós nascia um sulvertiginosamente azul. Azul.
ESPERANÇAMario QuintanaLá bem no alto do décimo segundo andar do AnoVive uma louca chamada EsperançaE ela pensa que quando todas as sirenasTodas as buzinasTodos os reco-recos tocaremAtira-seE— ó delicioso vôo!Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,Outra vez criança...E em torno dela indagará o povo:— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...