ONDE ESTÃO OS TEMPOS
Eduardo Nascimento
em que tudo era simples
por não ser nacessário outra coisa
senão um abrigo frágil de luar?
Onde estão os violinos dentro das gotas
As montanhas ainda sem cimento corpos e confusão?
Onde estão os amigos de infância
que olhavam o Tejo
das gaivotas e rostos sadios?
Onde estão nesta tempestade?
Quem perdeu as asas dentro da cidade?
Que espíritos são estes adormecidos em tédio,
que despem todos os dias a pele nas ruas
e trazem nos olhos a dureza
da morte adiada?
Quem bebeu a última vaga de esperança
e ficou com a apatia no fundo das veias
a ser naufrágio?
Onde estão oa animais que lambiam
as mãos das crianças?
Onde estão as aves
que viram no tempo claro
a última sensação de alegria?
Quem sabe da última folha beijada
pelo potro na planície?
Onde estão os caminhos desta cascata congelada?
Outono de maré cheia
Gravidez esquecida
de muitos silêncios num só corpo
Voo até ao infinito
desta necessidade de fuga como um raio
que nada toca pela ausência
Arvore esquecida no pântano
perto de um piano de cristal em melodia
Mundo autêntico que existe
além deste fastio de horas
sem nexo!
do livro "Pedaços do meu Tempo"
Prêmio de poesia Cidade de Ourense - Espanha