agosto 11, 2006


AS MÃOS DE MEU PAI

Mario Quintana

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre
[cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
[que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços
[da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
[vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
[contra o vento?
Ah! como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das
[tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos
[nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.