julho 18, 2007



FRIO

Licínia Quitério

Como são frias as tardes
por trás dos vidros frios das janelas.
São tardes longas que nem a noite esperam.
São apenas tardes frias e longas
sem lagartixas nos muros
pretensamente austeros de pedra solta.
Tardes hirtas e esquálidas
como os santos de El Greco
porém a preto e branco
que sépia é ousadia.
Como são velhas estas tardes.
Atravessaram o cristal da estepe
desgrenhadas pelo vento
amarrotadas pelo rolar do tempo.
Chegaram e marcaram lugar
do lado de lá do vidro frio das janelas.
Pobre de quem contempla
o banco frio onde se alonga a tarde.


Quando a tristeza acontece, sabe bem porquê. Podemos ouvi-la a pedir que a acarinhem. Em versos, em prosas, em músicas, em danças.
Se a ignoram, transforma-se em raiva. Se a mascaram, pode chamar-se horror. Um dia, irá embora. Nunca de vez. Como nós, que sempre partimos e voltamos. Ou desejamos que assim seja...

L.Q.
Mafra - Portugal