setembro 24, 2007



AS PALAVRAS

Eugénio de Andrade

São como um cristal
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória,
inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


In O Sal da Língua Precedido de Trinta Poemas,
Bibliotex, 2001 — 21/12/2006